Casal suspeito de cobrar até R$ 100 mil por falsas vagas em cursos de medicina aplicou 12 golpes no Brasil e exterior, diz polícia

O casal Alaor da Cunha Filho e Mayara Soares Pimassoni, suspeito de cobrar até R$ 100 mil por falsas vagas em cursos de medicina, aplicou pelo menos 12 golpes, segundo o delegado William Bretz, que investiga os casos. Após a denúncia de uma goiana, mais 11 pessoas procuraram a polícia em uma semana. Um áudio registra a negociação de uma vaga por R$ 35 mil (ouça acima).

“Fizeram muitas vítimas, não dá nem para estimar um número. Fomos procurados, até o momento, por 12 pessoas de vários estados e até do exterior. Imagine quantas pessoas ainda não denunciaram”, comentou o delegado.
O casal foi preso no último dia 26 de julho em um condomínio de luxo em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. A polícia conseguiu o sequestro de mais de R$ 1 milhão em bens, além de apreender dois carros avaliados em R$ 700 mil, relógios de luxo, dinheiro em espécie, computadores e telefones.

Os advogados de defesa de Mayara Soares Pimassoni disseram que ela nega que tinha conhecimento de tais fatos, e “que maiores esclarecimentos já foram prestados em seu depoimento em sede policial”. Explicaram ainda que o processo tramita em segredo de Justiça e não teve acesso ao mesmo, motivo pelo qual não pode dar mais detalhes.

O advogado Reynaldo Peixoto, que representa Alaor Filho, disse em nota que não teve acesso à íntegra do processo, mas que tem cooperado com a investigação.

Como funcionava o esquema
O delegado William Bretz explicou que a fraude consistia na venda de supostas transferências para faculdades de medicina brasileiras de estudantes matriculados no exterior. Os alunos seriam transferidos por meio de vagas remanescentes, mas essas, porém, nunca existiram.

De acordo com a polícia, Alaor Filho tem uma longa ficha criminal por estelionato, lesão corporal, receptação e até sequestro. Os investigadores descobriram que o negócio bancava uma vida de luxo e ostentação dos investigados.

“A falta de ocupação lícita e ter carros que superam R$ 1 milhão de valor total já dão uma dimensão do proveito do crime. Nunca houve vaga de fato. Apenas golpe”, afirma Bretz.
Denúncias que chegaram à polícia:

Goiás: 3
São Paulo: 2
Pernambuco: 1
Mato Grosso: 3
Paraguai: 2
Minas Gerais: 1

Primeira denúncia
Uma mulher que não quis se identificar conta que caiu no golpe. Ela queria trazer a filha que estuda no Paraguai para o Brasil. Segundo a polícia, as negociações foram feitas com Alaor Filho por áudios trocados em celular.

“Os lugares mais baratos que eu tenho hoje são em Goiânia e Minas Gerais, que eu consigo a R$ 35 mil. Tenho até de R$100 mil em São Paulo, na USP [Universidade Federal de São Paulo]”, disse Alaor.
A vaga foi negociada por R$ 35 mil entre a mulher e o suspeito. A partir daí, a conversa mudou, segundo ela.

“Começou a enrolar. Aí ele começou a falar: ‘Aguarda um pouquinho’, ‘demora um pouquinho’, ‘deu um probleminha aqui’, ‘um probleminha ali'”, desabafou a mulher.