Com o avanço da variante delta e o relaxamento das medidas de restrição, o Rio de Janeiro já tem sete cidades com suas UTIs de Covid-19 lotadas. A pressão do aumento de casos e internações faz com que tanto a rede privada quanto a pública corram para reabrir leitos.
No estado como um todo, a ocupação subiu de 59% para 70% nos últimos 20 dias. Os municípios com todas as vagas cheias são Itaguaí (região metropolitana), Teresópolis, Nova Friburgo, Cantagalo (região serrana), Bom Jesus do Itabapoana, Itaperuna e Miracema (noroeste fluminense), segundo os dados mais recentes, desta segunda (16).
Isso significa que uma a cada seis cidades fluminenses que possuem UTIs estão saturadas. Esses locais somam apenas 134 dos 1.922 leitos públicos do estado (7%), mas dão um sinal de que a piora pode se espalhar, uma vez que a cepa identificada primeiramente na Índia, mais transmissível, já é predominante e foi detectada em todas as regiões.
“Estamos observando que os municípios com mais dificuldade na vacinação, principalmente de idosos, estão com aumento. Outros com mais adesão ainda não tiveram tanto impacto nos números, apenas mais casos leves por conta da variante”, diz Carlos Vasconcellos, representante do sindicato de médicos (Sinmed/RJ).
O Rio de Janeiro encabeça uma tendência de piora em todo o país e é a principal preocupação de pesquisadores em saúde pública neste momento —seguido por outros estados das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste em geral, que agora não estão mais em queda.
Uma projeção feita pela Fiocruz mostra que as hospitalizações já sobem em quase todas as faixas etárias no RJ, mas de forma bem mais intensa na população de 60 anos ou mais. “Também tem tido muita internação de gente com apenas uma dose, que não segura a delta. É preciso correr com a segunda dose”, afirma o médico.
Três dos sete municípios com UTIs lotadas, por exemplo, haviam vacinado inteiramente apenas metade dos seus octogenários até o último domingo (15), faixa etária que deveria estar com a cobertura completa. Itaperuna havia imunizado 43%, Nova Friburgo, 49%, e Miracema, 55%.
Para tentar acelerar esse processo, a Secretaria Estadual de Saúde publicou uma nota técnica nesta segunda-feira recomendando a intercambialidade de vacinas, ou seja, que quem tomou a primeira dose da AstraZeneca (que está em falta) receba a segunda dose da Pfizer.
Outras três cidades fluminenses também preocupam pela alta ocupação de UTIs: Rio de Janeiro (95%), Teresópolis (94%) e Duque de Caxias (91%). A capital tem visto os números subirem mesmo com uma alta cobertura da primeira dose e com a ampliação da quantidade de leitos.
“O aumento na pressão da rede se dá pelos municípios do entorno. A Baixada Fluminense é o lugar que mais preocupa, porque a vida está normal, com pouco uso da máscara, e a cobertura vacinal é baixa. Mas ainda não há desasistência na rede pública nem privada, há mais casos nas emergências”, diz Vasconcellos.
Com o avanço da vacinação e o arrefecimento das curvas da Covid nos últimos meses, muitas vagas nos hospitais haviam sido direcionadas para outros tratamentos. Agora, com o receio da delta, estão sendo redirecionadas para a doença novamente.
Na rede muncipal, foram 60 leitos revertidos até agora e na estadual, mais 20. O governo Cláudio Castro (PL) decidiu acionar o Plano de Contingência da Covid-19, que prevê medidas a partir de níveis de cenários epidemiológicos, ponderando que elas “são preventivas em virtude da identificação de um aumento, ainda pequeno, de casos”.
O plano prevê ainda um chamamento público para a contratação de 150 vagas na rede privada, em análise jurídica e previsto para ser publicado em duas semanas. Além disso, suspende a decisão de transformar o Hospital Regional Zilda Arns (Volta Redonda) em unidade não-Covid.
Mudanças também estão sendo feitas nas unidades particulares. “A rede privada tem capacidade de se adaptar mais rapidamente. Eu diria que já houve um aumento de pelo menos 20% das UTIs em relação a julho, e podemos diminuir as cirurgias eletivas e abrir mais”, diz Graccho Alvim, diretor da principal associação de hospitais privados do RJ.
Segundo o pediatra, a ocupação da rede particular da capital fluminense passou de 62% na semana passada para 70% agora. No estado, está em cerca de 60%. A procura por emergências também subiu aproximadamente 40% em duas semanas, ele calcula.
“A maior parte dos internados são idosos que não se vacinaram por opção. Depois, pessoas mais jovens também sem vacinação. Em terceiro lugar estão as pessoas com apenas uma dose, entre os 40 e 60 anos, e por último os idosos que tomaram a segunda dose há mais de seis meses. Estamos notando que a imunidade cai nesse intervalo, por isso está se discutindo uma terceira dose”, afirma Alvim.
A prefeitura tem usado os dados para pedir que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) priorize o envio de vacinas e abra vagas nos hospitais federais —90 delas serão disponibilizadas nesta semana, segundo Soranz. Na última sexta (13), o prefeito Eduardo Paes (PSD) chamou a cidade de “epicentro da Covid”.
“O epicentro da pandemia no Brasil em relação ao aumento de casos é o Rio. O que aconteceu em todos os momentos em que esse epicentro esteve no Maranhão, em Manaus, no Rio Grande do Sul? Se entendeu que tinha que mandar mais doses”, pressionou ele em entrevista coletiva.
Paes tem mantido medidas que proíbem apenas o funcionamento de casas de show e boates (que, no entanto, abrem com frequência). Comércios, serviços, restaurantes, bares, shoppings e cinemas já estão permitidos sem restrições de horário há meses, incluindo rodas de samba e música ao vivo.