Maricá, RJ – A situação dos colaboradores das casas abrigo de Maricá atingiu um ponto crítico, com denúncias de descaso, salários atrasados e uma “capacitação” chocante que supostamente ensinava a misturar drogas.
A equipe, que já enfrenta um limbo trabalhista e riscos à saúde, agora lida com a indignação de ser instruída sobre o uso e a combinação de entorpecentes para “redução de danos” aos usuários.
Com dois meses de salários atrasados e sem qualquer informação sobre rescisão, os colaboradores se veem em uma encruzilhada.
A empresa anterior, ECOS, desligou-se em 1º de maio, deixando os funcionários sem vínculo empregatício. Embora alguns tenham sido recontratados em 29 de maio, mais da metade da equipe continua trabalhando sem regularização.
Para agravar a situação, em 9 de junho, muitos que não foram recontratados receberam um aviso de desligamento via WhatsApp, com a exigência de que ainda cumprissem a escala da semana.
Capacitação Abusiva e Perigosa

Em fevereiro de 2025, já sob a nova gestão, os colaboradores foram comunicados sobre uma “capacitação”. A surpresa e o impacto foram imensos quando descobriram que o treinamento visava ensiná-los quais drogas poderiam ser misturadas para instruir os usuários, sob o pretexto de “redução de danos”.

Relatos indicam que os funcionários, muitos sem nenhum contato prévio com entorpecentes, tiveram que aprender sobre a quantidade de gramas de pó ou maconha que os usuários poderiam consumir e quais entorpecentes poderiam ser misturados.
A veracidade dessa capacitação pode ser comprovada por uma apostila que, segundo os denunciantes, foi anexada à matéria, detalhando o conteúdo do curso.
“Foi um baque muito grande para a maioria que estavam ali sem saber que passariam por isso”, desabafou um dos colaboradores, que preferiu não se identificar. A equipe se sentiu ultrajada e questiona a ética e a legalidade de tal iniciativa.
Riscos à Saúde e Ameaças Constantes
Além da questão salarial e da “capacitação” controversa, os colaboradores dos abrigos estão expostos a condições insalubres e perigosas.
Há um usuário com tuberculose em contato direto com a equipe, sem qualquer tipo de proteção para os funcionários. Mesmo com avisos e reclamações à gestão e aos técnicos, o usuário não foi colocado em quarentena, expondo os profissionais ao risco de contaminação.
A segurança também é uma preocupação constante. Os funcionários relatam serem ameaçados pelos usuários dos abrigos, muitos com histórico de crimes graves, incluindo homicídio, tráfico, roubo e estupro. As ameaças são reportadas à gestão, mas nenhuma medida é tomada para proteger os trabalhadores.
Regalias Questionáveis e Falta de Suporte
Ainda, há a denúncia de que os usuários desfrutam de regalias que superam as de um trabalhador assalariado.
Muitos não demonstram interesse em trabalhar, pois a assistência social, em contato direto com o CRAS, consegue para eles diversos benefícios sociais. A gravidade da situação dos usuários já foi tema de reportagens da imprensa local que noticiou prisões de moradores dos abrigos por roubo e até homicídio, muitas vezes na porta das próprias instituições.
Os registros dos delitos e históricos criminais dos usuários são mantidos por técnicos e gestão, o que torna ainda mais incompreensível a falta de proteção aos colaboradores.
Diante de um cenário de abandono, insegurança e práticas questionáveis, os colaboradores das casas abrigo de Maricá clamam por uma intervenção urgente das autoridades.
A situação exige uma investigação aprofundada para garantir os direitos trabalhistas e a segurança desses profissionais, que continuam a cumprir um papel essencial para a cidade.